A Santíssima Trindade e o desejo de caridade
A PRIMEIRA COISA a fazer quando se reconhece a presença da graça divina no coração, é desejar mais caridade, e do momento que se deseja mais, já se tem mais: e esse desejo é em si o penhor do que ainda virá. A causa disso é que um desejo eficaz de amar a Deus nos afasta de tudo o que se opõe à Sua vontade.
É desejando crescer no amor que recebemos o Espírito Santo, e o efeito dessa comunicação mais abundante é a sede de maior caridade.
O desejo de caridade é mais do que uma fome cega da alma (embora em certas circunstâncias seja ele muito cego e tenha muito de uma fome). Ele é clarividente no sentido em que a inteligência iluminada pelo Espírito Santo se volta para o Pai e pede um aumento de amor em nome do Filho. Isso equivale a dizer que o desejo de caridade em uma alma cristã bem madura é um lúcido, profundo, tranquilo, ativo e sumamente frutuoso conhecimento da Santíssima Trindade.
Essa caridade conhece a Santa e bem-aventurada Trindade de três Pessoas em um só Deus, não à custa de olhar ao mesmo tempo três “unidades” distintas, o que seria tão difícil quanto falso, mas em procurar o Filho, oculto no Pai, pelo amor do Espírito Santo. Só há um amor que nos atrai ao Deus uno. Mas esse amor é, como Deus mesmo, trino. Porque a caridade nos dá união com as três Pessoas divinas, das quais ele vem – o Pai é a sua fonte inesgotável; o Filho, o foco do seu puro esplendor; e o Espírito Santo, o poder da sua eterna unidade.
Tudo isso Jesus nos ensinou em termos muito concretos. “Vou para o Pai, e tudo o que pedirdes ao Pai em Meu nome, Eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. [. . .] Se Me amais, guardai os meus mandamentos, e Eu pedirei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que Ele possa habitar conosco, para sempre” (Jo 14,13.15-16).