Blog › 27/05/2023

PENTECOSTES | Dom Bernardo Bonowitz

 

São Paulo diz que o Espírito Santo é o “penhor” da nossa redenção – a primeira prestação, que recebemos já aqui parcelado. Ele paga em duas vezes – uma nesta vida e a outra na vida eterna. Felizmente, cada uma das parcelas é bem grande. Aliás, a segunda prestação também será o Espírito Santo, a plenitude do Espírito por toda a eternidade.

Vamos considerar o que recebemos na vida presente – o que Deus comunicou à sua Igreja no dia de Pentecostes. Em primeiro lugar, o perdão dos pecados. “Recebei o Espírito Santo”, Jesus diz aos Apóstolos. “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados” (Jo 20,23). Que bom ficar livre do peso e do castigo de nossas más ações. Todos nós faltamos em muita coisa, e cada coisa malfeita acrescenta um pouco mais de peso nas costas. Se não fosse pelo dom do Espírito, andaríamos muito encurvados debaixo do fardo dos pecados. Mas por meio deste dom, o amor de Deus em pessoa, toda vez que pedimos com fé, confiança e arrependimento – sobretudo no sacramento da reconciliação – tira os nossos pecados, e nos restaura a nossa inocência. Em outras religiões, uma vez perdida a inocência, perdida permanece. Na nossa, porém, pelo dom do Espírito, nos tornamos limpos e leves de novo.

São Paulo diz que em sua vinda o Espírito nos entrega uma cesta de frutos. (Sei a diferença entre “frutos” e “frutas”: estou aproveitando aquilo que se chama “licença literária”). Estes frutos têm o poder de realizar uma transformação progressiva de nossa personalidade – não de fazer de nós pessoas diferentes, mas de tornar-nos as pessoas que almejávamos ser, e que sem o Espírito simplesmente não conseguíamos ser. Aqui está a lista do hortifrutigranjeiro do Espírito: “Os frutos do Espírito são: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, autodomínio”. Estas são as mudas que o Espírito planta em nós. Pouco a pouco, com o passar dos anos, lançam raízes profundas em nós e abrandam o nosso jeito de ser – de pensar, falar, tratar os outros.

Que maravilha Deus nos ter concedido este dom que renova a nossa face – exterior e interior – que nos capacita a sermos bons pais, colegas, amigos, filhos e filhas, e que nos torna felizes. Possuir uma personalidade “espiritualizada” assim é um verdadeiro tesouro.

O Espírito se infunde também em nossa mente, fazendo do cristão mais simples (e igualmente do mais sofisticado) um “sábio”. Ele abre os nossos olhos à grandeza e presença de Deus no mundo e em nossa vida; nos ensina a respeitar a Deus como um bom pai, ajuda-nos a compreender a razão de nossa existência, aponta-nos para a escolha certa em cada situação. Enquanto amadurecemos, Ele cria em nós a capacidade de dar uma palavra de conselho para pessoas em dificuldade, mostra-nos as leis que governam o universo que a Trindade criou e, por fim, forma em nós uma visão pacífica e profunda da realidade. Ele nos faz compreender o “mistério” da vida, o qual, no fim das contas, não é um mistério, mas o eterno plano concebido antes da fundação do mundo e realizado em Jesus Cristo. O Antigo Testamento diz: “O temor do Senhor é o início da sabedoria” (Pr 9,10). O que deve ser então o fim, senão “para aqueles que amam a Deus, tudo coopera para o bem. Nada pode nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,28 e 39)? Isto é sabedoria e paz ao mesmo tempo.

São Paulo diz também que quando o Espírito de Deus habita em nós, o nosso espírito está cheio de vida. Aceitamos que um dia morreremos, mas, em vez de sentir a nossa vitalidade diminuir, experimentamos um fortalecimento interior. Para citar Paulo de novo: “Mesmo se o nosso físico vai se arruinando, o nosso interior, pelo contrário, vai se renovando dia a dia” (II Cor 4,16). Percebemos a verdade do versículo do salmo, “não morrerei, mas viverei, para proclamar as grandes obras do Senhor” (SI 118,17). Uma vida divina dentro de nós, a vida do Espírito, nos está preparando para entrar em nossa herança imortal, para receber a segunda prestação. O Espírito deixa claro que não estamos destinados ao aniquilamento, mas para a plenitude, para a vida que é o encontro face a face com Deus.

Tudo isto o Espírito nos concede não como propriedade privada, mas dom a ser compartilhado. O perdão, a transformação de nossas energias afetivas, a nova compreensão de Deus, da vida e de nós mesmos, a firme esperança da vida sem fim – tudo isto pede para ser proclamado. Tudo isto nos empurra para sermos evangelizadores. Se o que eu disse nesta homilia é verdade (e é verdade, sim, tudo se encontra na Bíblia), como guardar isto para nós mesmos, quando há bilhões que precisam ouvir esta mensagem? Este é o significado das línguas de fogo da primeira leitura: o Espírito desceu sobre os Apóstolos em línguas de fogo, e logo eles começaram a falar. E o que falaram? “Anunciaram as maravilhas de Deus em todas as línguas do mundo” (At 2,4).

Glória a Deus pelo dom do Espírito Santo – que vem habitar dentro de nós e que vem para fazer de nós testemunhas até os confins da terra. Abramo-nos a este supremo dom, e alegremo-nos nele. O Espírito Santo em nós é a fonte da vida que todos buscam e que nós encontramos. Ou melhor: que foi derramada dentro de nós e nos torna criaturas novas e renovadoras.

 

Dom Bernardo Bonowitz, OCSO
Sermões de um Trapista Brasileiro
pág.93-96

 

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.