Blog › 21/03/2018

Trânsito de São Bento

O calendário monástico reserva o dia 21 de março para a festa do Trânsito de São Bento, concedendo ao Pai dos monges do Ocidente não apenas uma, mas duas memórias no Ano Litúrgico (sendo a principal no dia 11 de julho). Os cistercienses celebram duplamente essa data, pois foi no dia dessa festa que, no ano 1098, os Santos Roberto, Alberico e Estevão partiram da abadia de Molesmes rumo ao remoto Vale de Cister, para ali iniciar uma forma de vida monástica mais próxima do ideal de São Bento.  Portanto, no dia de hoje celebramos exatos 920 anos da fundação de Cister (1098-2018).

A leitura do Ofício de Vigílias para esta festa relata o passamento – o transitus – de São Bento para o Pai, e é uma das mais comovedoras passagens saídas da pena de seu discípulo e biógrafo, o papa São Gregório Magno.

Assim que Deus lhe deu a conhecer o dia de sua morte iminente, São Bento pôs-se a preparar seu túmulo. Com o corpo extenuado pela enfermidade, participou do Santo Sacrifício da missa, comungou e morreu de pé, sustentado por seus discípulos. No momento exato de sua morte, dois de seus monges – um no mosteiro, o outro distante – tiveram a mesma visão: um caminho de luz se estendia da cela do santo abade até o Céu: “Este é o caminho pelo qual Bento, o amado do Senhor, subiu ao Céu”.

Segue o texto.

BENTO ANUNCIA AOS IRMÃOS A SUA MORTE

Do Segundo Livro dos Diálogos, capítulo XXXVII
de São Gregório Magno

No mesmo ano em que devia partir desta vida, Bento anunciou o dia de sua santíssima morte a alguns discípulos que com ele viviam e a outros que moravam longe. Aos presentes acrescentou que guardassem em silêncio o que ouviram, e aos ausentes ainda deu a saber o sinal que se produziria para eles quando a alma se lhe apartasse do corpo.

Seis dias antes da sua morte, mandou abrir a sepultura. Pouco depois atacado de febres, começou a ser atormentado pela violenta temperatura. Como dia a dia se agravasse o mal, no sexto dia fez-se levar ao oratório pelos discípulos; aí muniu-se, para a partida, com a comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor; a seguir, apoiando nos braços dos discípulos os membros enfraquecidos, ficou de pé com as mãos elevadas para o céu, e entre palavras de oração exalou o último suspiro.

No mesmo dia, foi comunicada a dois irmãos, dos quais um estava no mosteiro e o outro distante, igual visão: ambos viram um caminho forrado de tapeçarias e cintilante de inumeráveis luzes, estendido desde a cela de Bento até o céu, em direção do oriente; no alto, estava um homem de venerável e resplandecente aspecto, que lhes perguntou que caminho era aquele que contplavam; eles confessaram que ignoravam; então lhes disse: “Este é o caminho pelo qual Bento, o amado do Senhor, subiu ao céu”. Assim aconteceu que, como os discípulos presentes viram a morte do santo varão, também os ausentes dela tiveram conhecimento, pelo sinal que lhes fora prenunciado. Foi sepultado na capela de São João Batista, que ele próprio construíra no lugar onde ficava o altar de Apolo, que ele destruíra.

Fonte: Lecionário Monástico

via Schola Christi

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