Blog › 15/10/2020

Santa Teresa de Ávila

Notas biográficas de Thomas Merton

Ascensão para a Verdade

(Itatiaia, 1999) p. 244-245

 

Já que a santidade e a contemplação aperfeiçoam todo o ser humano, não surpreende que alguns dos maiores místicos se tenham caracterizado pela ternura humana, vivacidade de espírito e bom senso. Todas essas qualidades naturais, a graça as transformou na alma de Teresa de Ahumada, para fazer dela uma das mais atraentes personalidades da Igreja. Como Reformadora das Carmelitas, ela combinou com a sua vida contemplativa um notável talento administrativo e recursos aparentemente inesgotáveis de energia. Sua história chegou a nós em uma autobiografia que se situa entre as maiores produções da literatura espanhola, embora as suas outras obras não sejam menos admiráveis.

Nascida em Ávila a 28 de março de 1515, Teresa entrou com 21 anos no convento carmelita da Encarnação, em sua terra natal. Longe de tornar-se uma santa no seu noviciado, passou vinte anos de mediocridade religiosa, negligenciando as graças de oração interior e vivendo sem rumo, de mês para mês, sem sérios ideais e sem nenhum diretor a conduzi-la nos caminhos da perfeição religiosa.

Somente aos 40 anos, de improviso, ela abriu os olhos à seriedade da sua posição. Guiada pela luz da graça, aplicou-se seriamente à oração mental e começou a pôr ordem na vida. Rápidos foram os progressos, especialmente sob a influência de alguns dos grandes santos e teólogos que providencialmente entraram em sua vida por esse tempo. Seu encontro com o jesuíta S. Francisco de Borgia, a amizade com o Reformador franciscano S. Pedro de Alcântara, a direção de homens como o dominicano Bañez e o jesuíta Baltasar Álvarez, contribuíram imensamente para o seu progresso espiritual.

A característica principal da espiritualidade de S. Teresa é a sua percepção da importância da oração mental. (…) Todo o seu objetivo ao voltar à Regra original do Carmelo, foi tornar possível a pessoas como ela encontrar a solidão e a liberdade espiritual de que depende a vida contemplativa.

Teresa tinha uma noção claramente apostólica da vida contemplativa. Acreditava que as suas monjas, pela vida de oração e sacrifício, deviam fazer muito pela dissipação da confusão religiosa do século XVI, pela salvação das almas e a unidade da Igreja Católica. É extremamente significativo que um dos mais belos frutos da Contrarreforma fosse uma Ordem em que a oração contemplativa em sentido estrito era não só realçada mas adotada como um fim.

Quando S. João da Cruz encontrou Teresa em 1568, e começou, do seu lado a lançar os fundamentos para uma reforma dos frades carmelitas, uma nova nota foi acrescentada: os padres da Ordem deveriam não só praticar a contemplação, mas também ensinar os caminhos da oração interior, levando as almas sob sua direção a um certo grau de contemplação, não só nos conventos, mas também no mundo.

Depois de uma vida de alta contemplação, de prodigiosa atividade e incrível sofrimento, S. Teresa morreu a 4 de outubro de 1582. Nessa ocasião, seria difícil encontrar na Espanha uma cidade importante que não tivesse um convento de Carmelitas Descalças.

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