Thomas Merton. Vivo estivesse, completaria hoje 103 anos. Ele, que ocupou-se diariamente em registrar em seus diários suas inquietações e dúvidas, vitórias e fracassos, sentimentos nobres ou demasiadamente humanos, o que escreveria no dia de hoje se vivo estivesse?
Seriam páginas serenas e cheias de sabedoria próprios ao que se espera de um ancião? Provavelmente sim, mas não só. É de se esperar que também registrasse dúvidas e inquietações, perplexidades e incômodos. Porque isso é Thomas Merton, um Hamlet da jornada espiritual, e por isso uma referência de santidade perfeita para nosso dias – não só por sua proximidade histórica a nós, como pelas nuances e matizes de sua estrutura psíquica. Um homem capaz de abrir-se ao Espírito e escrever páginas de delicada e fina espiritualidade, mas também capaz de revelar sua humanidade nos diários onde se revela um homem de seu tempo, com traços de hesitação, frustração e impaciência. Tudo isso o torna um homem de santidade, porém muito próximo a nós.
Neste aniversário de 103 anos, na sequência de uma noite inesperadamente fresca no verão do Rio de Janeiro, o dia amanheceu nublado e com pálidos raios de sol clareando a Igreja do Mosteiro de São Bento, onde comparecemos para a missa onde seu nome constava entre as intenções. Não foi uma missa exclusiva para ele. Homem algum é uma ilha, ele diria, e nas intenções ele estava acompanhado por outros nomes: Marias… Alfredos… Antonios… ali estavam eles todos no coração e na mente de todos nós presentes, que com sentimentos distintos nos uníamos por uma razão comum: prestar tributo àqueles que partiram com a morte, mas que continuam vivos inspirando-nos em nossas histórias e decisões.
Feliz aniversário, Thomas Merton! Nós que igualmente hesitamos, temos receios, dúvidas e inquietações nos igualamos a ti em tua humanidade. E continuamos a manter vivas suas palavras com o ideal de compartilhar também contigo, um dia, a santidade!