Místicos e Mestres Zen
(Martins Fontes, 2006)
Comunicação é palavra da moda. Nossa época poderá ser qualificada como sendo o período da longa história humana onde foi mais sentida a consciência da necessidade do encontro. Sem comunicação esse encontro entre o eu e o tu não poderá ser realizado. Cursos se multiplicam nas Universidades, livros que versam sobre o assunto vão abarrotando as estantes. A televisão vai faturando as virtudes do consumo em massa da aldeia global. E, apesar de tudo, os choques e conflitos por falta de comunicação nunca foram tão críticos como agora. Por que a busca da comunicação gera o conflito? Por que os sanatórios de doenças mentais estão superlotados nesta época de “luzes”? Angustiado com o paradoxo, Thomas Merton mergulhou na busca das raízes do problema humano. Abandonando as perspectivas douradas de uma vida profissional cheia de recompensas materiais, larga tudo e mergulha na Ordem dos Trapistas onde a regra do silencia é uma norma, o trabalho manual uma religião e a oração direta, pura, sem, palavras, um hino que se eleva ao Supremo em cada gesto. Aos poucos foi penetrando naquela solidão criadora onde somente nela e possível o contato com o desconhecido, com o verdadeiro mundo que os homens não sentem. Toda essa psico-atmosfera que o rodeava, Merton foi transportando para uma série de livros admiráveis, relatando as paisagens de uma vida interior que o homem-maquina não vive. Aos poucos, a experiência Zen, que tanto o marcou, se afirmava como uma vivencia em sua obra. O Zen, que para muitos é apenas uma escola do Budismo Japonês, aparecia sob uma configuração cristã sem perder sua extraordinária autenticidade. Os mestres Zen falam a mesma linguagem universal dos místicos. Uma espécie de metalinguagem que se revela para os que têm ouvidos e sensibilidade para compreendê-la.
Admiráveis exemplos dessa identidade são apresentados no texto pelo autor que cada vez mais sentia no Zen budismo um caminho para o atemporal. Para aquele território único onde as palavras perdem sua força e os seres vivem unidos na mesma base. Nele, a comunicação é feita de maneira integral. Direta. De certa forma explosiva por que caem uma série de barreiras que separam as coisas o homem fica então sozinho diante da realidade e sente-se reencontrado na imensidão que “vê” pela primeira vez. Essa visão direta da realidade, da coisa nua, é quase que impossível de ser descrita. Tudo que se disser dela é o reflexo apenas de uma experiência. Falar sobre ela é se afastar dela. As palavras são de¬dos apenas apontando a lua – segundo um proverbio Zen. Deve-se olhar a lua e não os dedos. Torna-te realmente a lua se queres encontra-la.
Em Thomas Merton sente-se a sinceridade do viajante que fala da experiência direta de suas incursões no Absoluto. Neste absoluto, cuja porta está livre e escancarada a espera do leitor desta orelha, que talvez ainda esteja em dúvida se deve ou não mergulhar neste livro. O leitor encontra-se quase que na mesma posição da rãzinha impregnada de Zen no poema do genial Basho. A solução da dúvida talvez esteja no haicai:
“Poço escuro
Subitamente a rã
Salta.
PLOP!”
Salte com Thomas Merton, leitor amigo, e sinta no choque com a água da Realidade o que as palavras por mais belas e ornadas que sejam não poderão dar. A Comunicação se perde nas não-palavras.
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