Livros › 09/12/2016

Espiritualidade, Contemplação e Paz

(Itatiaia, 1962)

Não há dúvida de que a vocação monástica é uma das mais belas da Igreja de Deus. A “vida contemplativa”, como é em geral chamada hoje a vida das ordens monásticas, é uma vida inteiramente dedicada ao mistério de Cristo, a viver a Vida de Deus que se dá, a Si mesmo, a nós em Cristo. É uma vida totalmente entregue ao Espírito Santo, vida de humildade, obediência, solidão, de silêncio, oração, onde renunciamos aos desejos e orientação pessoais para viver na liberdade dos filhos de Deus, guiados pelo Espírito Santo que fala através de nossos Superiores, de nossa Regra, pelas inspirações de Sua graça no íntimo dos corações. Vida de total oblação a Deus em união com Jesus que foi crucificado por nós, ressuscitou dos mortos e vive em nós por Seu Santo Espírito.

 

Todavia, por mais bela que seja esta vida, simples e elevada tal como a tradição monástica no-la mostra, os monges são seres humanos e a humana fragilidade tende sempre a diminuir ou a deturpar a integridade do que nos foi dado por Deus. E é tanto mais de se lamentar que algumas almas, cheias de boa vontade e de generosidade, abraçam a vida monástica e acabam vendo sua boa disposição dispersa em futilidades e na rotina. Em vez de viver a vida monástica em sua pureza e simplicidade, tendemos sempre a complica-la ou pervertê-la graças a nossa visão limitada e desejos humanos demais. Damos exagerada importância a aspectos parciais da vida, desequilibrando assim o conjunto. Ou então caímos naquela miopia espiritual que só vê pormenores e perde de vista a grande unidade orgânica em que fomos chamados a viver. Em resumo, para compreender as inúmeras regras e observâncias da vida monástica, precisamos ter sempre diante dos olhos a significação real do monarquismo. Para não nos embaraçarmos nos meios que nos são dados, é-nos preciso relacioná-los sempre com seu fim.

Somente à luz do mistério de Cristo podem ser vistas as grandes finalidades da vida monástica. Cristo é o centro do monaquismo. Sua fonte e seu fim. É o caminho do monge tanto quanto seu alvo. Prescrições monásticas e observâncias, práticas de ascetismo monástica e oração devem ser continuamente integradas nesta realidade mais alta. Vistas sempre como parte de uma realidade viva, como manifestações de uma vida divina, mais do que elementos de um sistema ou manifestações apenas de um dever. O monge faz mais do que conformar-se com prescrições e ordens que não pode compreender – deixa de lado sua vontade para viver em Cristo. Renuncia a uma liberdade inferior em vista de outra mais alta. Mas, para que sua renúncia seja frutuosa e válida, precisa ter o monge alguma ideia do que está fazendo.

 

O intento destas notas é examinar brevemente os grandes princípios teológicos sem os quais observância monástica e vida monástica não teriam sentido. As verdades aqui apresentadas assumem obrigatoriamente forma muito condensada. Quem quiser entende-las terá de lê-las, pensando-as, na presença de Deus.

 

Embora escritas para monges e, em particular, para noviços e postulantes cistercienses, poderão estas páginas interessar a todo religioso e mesmo a todo cristão, já que a vida monástica é tradicionalmente considerada como a pura vida cristã, a perfeita vida “em Cristo”. Um caminho seguro para o cume daquela comum perfeição da caridade a que Jesus chamou quantos deixaram o mundo para seguí-Lo ao céu.

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.