Diário secular de Thomas Merton
(Vozes, 1961)
“Teria sido possível imaginar que um dia eu viria ser monge neste mosteiro?” O jovem que tal escrevera em seu diário, aos 12 de abril de 1940, era recém formado pela Universidade de Columbia e neo-convertido ao catolicismo. Fazia seu retiro de Páscoa numa abadia de Kentucky, cujo endereço fora dado por um professor de filosofia de Columbia. Ao escrever a frase, não podia saber que voltaria ao Mosteiro para ali permanecer. Nem que sete anos após (1948) publicaria um livro com o título: A Montanha dos Sete Patamares.
O Diário Secular, em cujas páginas Thomas Merton registrava seus pensamentos particulares dos 24 aos 26 anos de idade, após vinte anos, recentemente foi liberado pelos respectivos superiores religiosos.
Começa num quarto mobiliado em Perry street, de Greenwich Village; vai a Cuba na primavera de 1940, volta a Nova Yorque, ao St. Bonaventure College, e a Harlem, para alcançar o clímax na Abadia de Gethsemani, durante a Semana Santa de 1941. A última parte refere o encontro de Merton com a fundadora da Friendship House, à qual presenteou o diário, enquanto a história alcança seu fim nas palavras da última passagem: “Eu falarei com um dos Frades”.
No trecho a seguir, Merton, com 25 anos de idade, está em Camaguey, México, assistindo a uma espécie de teatro, recheado de muitos números circenses e danças “inesquecíveis”, por serem, na sua opinião, tão ruim e tão horrível de se ver. Percebemos a sua perspicácia e humor ao descrever o evento:
“…Por mais que viva, jamais esquecerei, tão ruim que era… Uma das meninas tinha a cara redonda, a outra era realmente gorda, a terceira era magrinha e tinha pernas finas, uma espécie de cara de gato, atraente e bonita. Ela bem sabia que era mais graciosa que as outras. Sem que tivesse havido muitos aplausos, repetiram o numero do principio ao fim, como se já fosse de rotina, como se tivessem de faze-lo duas vezes. Era tão bonito e tão horroroso: para este lado, para aquele lado, volta pra cá, volta pra lá, tan tan tan; no fim davam uma volta e levantavam as saias como leves capinhas, nas pontas dos pés. Ding, ding. O fim.
Fugiram apressadamente do palco. Nunca vi coisa tal horrível, ou tão inesquecível, ou tão fascinante. Não é que dançassem mal. Dançavam ate muito bem; mas uma dança tão ruim que dava vontade de chorar, tão ruim e sem sentido! Que mexicanos! Foi ainda pior, quando a gorducha dentro de novo correndo, vestida com um casaco preto peludo, curto e apertado, de vaqueiro mexicano, tão preto e tão apertado e tão peludo que a fazia assemelhar-se a um enorme rato. Realmente, seus movimentos eram todos de um enorme rato gigantesco e era isso que estava estampado no sorriso que lhe abria a face: “agora você vão ver que eu sou o rato gigante! Esse número era realmente mais horrível do que o outro, sem ao menos uma boa dança para compensar a ruindade de toda a concepção. Fiquei duro com essa dança. Quando acabou, poderia ter chorado! “
Ainda pode ser encontrado em sebos.
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