Sucede-me o que mais temia,
o que mais me aterrava acontece -me.
eu não repouso:
o que vem é a agitação!
Bíblia de Jerusalém Jó 3,25-26
Sucede-me o que mais temia,
o que mais me aterrava acontece -me.
eu não repouso:
o que vem é a agitação!
Bíblia de Jerusalém Jó 3,25-26
Reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus desígnios fica frustrado.
Falei de coisas que não entendia, de maravilhas que me ultrapassam.
Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos: por isso, retrato-me e faço penitência no pó e na cinza.
Bíblia de Jerusalém Jó 42, 2-6
Foi também neste ano que a dura crosta de minha alma ressequida espremeu para fora os últimos resquícios de religião que ainda estavam dentro de mim. Não havia espaço para nenhum Deus naquele templo vazio, cheio de poeira e entulho, que eu agora fechava ciosamente contra qualquer intruso, para dedicá-lo ao culto de minha própria estúpida vontade.”
(MSP, p, 81)
Havia algo mais que me atraía: uma espécie de paz interior. Gostava de ficar nesses lugares sagrados.
Tinha uma espécie de convicção forte e profunda de que meu lugar era ali: De que minha natureza racional estava plena de desejos e necessidades profundos que só encontrariam satisfação nas igrejas de Deus.
(MSP, p.103)
Meu pai nunca teve o propósito direto e programado de me ensinar religião. Se algo de espiritual havia em sua cabeça, isto brotava mais ou menos naturalmente. E este é o tipo de ensinamento religioso, ou de qualquer outro tipo, que produz maior efeito.
(MSP, p. 54)
Fui transpassado por uma luz que me fez compreender um pouco da condição em que me encontrava. Fiquei horrorizado com o que vi e todo o meu ser revoltou-se contra o que estava dentro de mim; minha alma queria escapar e libertar-se de tudo isso com uma intensidade e urgência que jamais eu tinha conhecido antes. E nesse instante, acho eu que pela primeira vez na vida, comecei realmente a rezar…
(MSP, p.104)
A alma do homem, deixada ao seu plano natural, é um cristal potencialmente translúcido abandonado na escuridão. Ela é perfeita em sua própria natureza, mas falta-lhe algo que só pode receber de fora e de cima. Mas quando a luz brilha nela, transforma-se de certo modo na luz e parece perder sua natureza no esplendor de uma natureza maior, a natureza da luz que está nela.
(MSP, p. 156)
Eu realmente acreditava nisso: fama e sucesso. Queria viver nos olhos, boca e mente das pessoas. Não era tão estúpido a ponto de querer ser conhecido e admirado pelo mundo todo; havia certa satisfação ingênua na ideia de ser apreciado apenas por certa minoria. Isso dava um encanto especial a este impulso dentro de mim.
(MSP, p.214)
Eu precisava que a solidão se expandisse em largura e profundidade e que eu fosse simplificado sob o olhar de Deus da maneira como a planta desdobra suas folhas ao sol. Isto significava que eu precisava de uma Regra que se destinasse quase inteiramente a desapegar-me do mundo e unir-me com Deus.
(MSP, p. 236)
1. Thomas Merton, A Montanha dos Sete Patamares (Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005, p. 113. De agora em diante, indicado no texto por suas iniciais MSP.
2. Em relação ao marco teórico deste ensaio, devo muito aos trabalhos publicados e não publicados do meu colega Professor Un-chol Shin. Ver, especialmente, "The Structure of Interdisciplinary Knowledge: A Polanyian View," Issues in Integrative Studies 4 (1986), pp. 93-104.