Blog › 04/04/2018

Irmã Maria Emmanuel, OSB

Nascia em 04 de abril de 1912, no Rio de Janeiro, Elsie de Souza e Silva.

Foi educada na França e na Inglaterra, posteriormente retornou ao Brasil para estudar no Instituto Católico de Ensino Superior (futura PUC-Rio), fundada por Alceu Amoroso Lima em maio de 1932.

Naquela época, a igreja e a sociedade presenciavam a efervescência da Ação Católica, movimento que prezava pela formação de leigos para colaborar com a missão da Igreja, tendo como um de seus principais dirigentes o amoroso Dr. Alceu, que, com uma atuação vívida e criativa, levou um número significativo de jovens ao discernimento da vocação para a vida monástica, dentre tantos, a jovem Elsie.

Ingressando no Mosteiro da Virgem, acolheu a nova vida e o novo nome: Irmã Maria Emmanuel de Souza e Silva, na Ordem de São Bento (OSB).

Nunca pudera imaginar que a milhares de quilômetros dali, num mosteiro dos Estados Unidos, estaria um talentoso jovem descobrindo os encantos e desafios de viver na clausura. E que sentimento brotaria do coração desta jovem monja ao constatar que existia, em pleno século XX, um novo “São João da Cruz”? Ficou atônita com a comparação lida num artigo assinado por Alceu Amoroso Lima. Irmã Maria Emmanuel tomou conhecimento pela primeira vez do monge trapista Father Louis (Thomas Merton).

Poderia existir um “contemplativo americano?”. Era sua grande inquietação.  

Não parou mais de buscar informações sobre Merton, até encontrá-lo novamente numa edição italiana do L’Osservatore Romano, em que havia uma poesia e um breve relato de sua vida.

Vibrou de alegria quando, enfim, pode ter nas mãos uma edição de The Seven Storey Mountain. De fato, encontrara naquela autobiografia um jovem neoconverso “patético, lúcido, modesto, autêntico e, digamos a palavra, genial.”

Surgiu uma grande ideia. Durante os preparativos para o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, em 1955, Ir. Maria Emanuel decidiu escrever para Thomas Merton, sem muita pretensão de ver sua carta chegar ao destinatário, para que este traduzisse para o inglês o hino de autoria de Dom Marcos Barbosa. Ter um importante nome assinando a tradução do hino iria agregar valor ao já reconhecido tesouro poético.

Hino traduzido por Thomas Merton

De todo o canto, vinde, correi:
foi posta a mesa do nosso Rei!

Do Céu desceu a chuva,
A gota entrou no chão;
A vinha deu a uva,
A espiga deu o grão.

O homem com carinho
Curvou a rude mão;
da uva faz o vinho,
do trigo faz o pão.

Do Céu desceu a graça,
Maria a recebeu;
qual procissão que passa
no seio traz um Deus.

À mesa dos mortais
o Cristo se assentou;
os mais doces sinais
na sua mão tomou.

É sangue o que era vinho
e corpo o que era pão;
a mim, a cruz, o espinho,
a ti, a refeição.

A jovem contemplativa exultou de alegria quando viu em suas mãos, duas semanas depois, a missiva assinada por Merton com o pedido atendido. A partir daí, foram dezenas de dezenas de cartas trocadas ao longo de 14 anos. A monja de Petrópolis tornou-se a principal tradutora dos livros de Thomas Merton no Brasil, 25 no total, realizando, inclusive, as negociações entre as editoras norte-americanas e brasileiras. Nem o mais arguto leitor se dava conta, ao folhear as páginas iniciais, quando lia “Tradução Mosteiro da Virgem”, que o fruto daquele trabalho passara pelas mãos e pela sensibilidade de uma verdadeira amiga do autor.

A morte prematura de Merton, em 10 de dezembro de 1968, atingiu em cheio a já amadurecida monja.

Em 1996, passados 28 anos de sua páscoa, Thomas Merton já era considerado um dos principais escritores do seu tempo. E toda essa trajetória de admiração sentida pela Ir. Emmanuel, iniciada na leitura daquele artigo de Alceu Amoroso Lima, chegou ao feliz ponto de ver fundada no Brasil uma Sociedade em torno de seu inesquecível amigo: Thomas Merton.

Cristóvão de Sousa Meneses Júnior
MERTONIANUM 100 (Riemma, 2015), pág. 17 - 20

(Artigo na íntegra)

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