Com essa solene declaração vinda do Céu, Cristo inicia sua vida pública, sustentado pelo Espírito Santo que sobre ele desce e nele permanece. Com esta mesma declaração, celebrada na missa do Batismo do Senhor, a Igreja conclui o ciclo do Natal e se põe a caminho para levar a salvação de Deus até os confins da terra.
Este Filho amado é Jesus, que nasceu e cresceu em Nazaré da Galiléia. Ele é o Filho de Deus e o filho de Maria; ele é Senhor e servo; ele é a Palavra feita carne; o seu nome é Jesus, “porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1, 21).
Esta missão, Jesus a cumpriu ao longo de toda a sua vida: vida escondida, vida pública, e principalmente sua Paixão e Ressurreição.
Contudo, numa cultura como a nossa, obcecada com o ativismo e o imediatismo, esta etapa escondida – que constitui 90% da vida do Senhor – não tem sido suficientemente valorizada. Desde seus primeiros anos em Nazaré, ele viveu e atuou como filho de Deus: ele rezava, trabalhava, estudava, tinha vida social etc. Todos eram atos divinos, porque sua fonte era sua pessoa divina.
Jesus falou uma só vez em trinta anos, quando ficou no Templo e seus pais vieram à sua procura: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lc 2, 49). Ainda assim, “Jesus voltou com eles a Nazaré e era-lhes submisso. E ele crescia em estatura, sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens”.
Já em sua vida simples e ordinária em Nazaré, todos os seus atos eram atos salvíficos, e deles saía uma força divina, invisível mas eficaz, realizando sua obra de salvação. Isto manifesta a grande dignidade da vida cristã e da vida monástica, em sua cotidianidade e seu escondimento. Certamente a imensa maioria de nós vive uma vida simples, anônima e modesta; mas, como cristãos e batizados na morte ressurreição do Senhor, nos tornamos autênticos irmãos de Cristo, participantes da vida de Deus e de sua obra divina.
Em virtude desta participação, todos os nossos atos, unidos a Cristo e realizados na graça, são agradáveis a Deus Pai e fecundos para a salvação do mundo. Com Paulo, podemos dizer: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Esta é a misteriosa fecundidade da vida cristã.
A vida monástica é exemplo perfeito desta vida escondida em Cristo, na qual o monge cresce diariamente em sabedoria, estatura e graça, até chegar – em comunidade, e na Igreja – à plenitude da idade de Cristo.
Que cheguemos à plena consciência de nossa responsabilidade como filhos de Deus e de nossa participação na missão de Cristo para a redenção do mundo inteiro.