Dia 19 de outubro de 1968 Merton viaja para Calcutá, onde participará da primeira Conferência de Cúpula Espiritual do Temple of Understanding, uma organização inter-religiosa de educação e advocacia criada em 1960 e ainda hoje ativa (saiba mais na nota 21, página 35, do Diário da Ásia)
A conferência foi realizada de 22 a 26 de outubro de 1968 e contou com a presença de líderes de muitas tradições. Os participantes da conferência incluíram o bom amigo de Merton, Amiya Chakravarty, e o professor Huston Smith, que fazia parte do comitê editorial da conferência.
Os debates do evento giraram em torno da “relevância da Religião no Mundo Moderno”, e para estimular os participantes foram propostas as seguintes questões:
Como a religião contribui para o crescimento da humanidade em uma época que apresenta desenvolvimento científico, avanço material, poder político e indiferença em relação ao espírito;
Que lições a religião tem a oferecer àqueles que puseram sua fé no computador e em seus descendentes, no míssil balístico intercontinental, no foguete lunar e nos milagres da telecomunicação?
O que a religião pode dizer aos incontáveis jovens de todas as terras que viram como somos incapazes de lidar com a injustiça, a guerra, a fome, o preconceito racial e religioso e, portanto, tendem a se afastar das instituições religiosas?
Convidado a encerrar o evento com uma oração, Merton chamou todos a se darem as mãos e, alertando para a necessidade de se criar uma linguagem nova de oração, que deveria provir de algo que transcendesse as tradições ali representadas, recitou aquilo que os unia. Depois de um minuto de silêncio, assim rezou:
Ó Deus, nós somos um contigo. Tu nos fizeste um contigo. Tu nos ensinaste que, quando estamos abertos uns aos outros, tu moras em nós. Ajuda-nos a preservar essa abertura e a lutar por ela com todas as nossas forças. Ajuda-nos a compreender que não pode haver entendimento quando há mútua rejeição. Ó Deus, aceitando-nos uns aos outros de todo o coração, inteiramente, completamente, nós te aceitamos e te agradecemos e te adoramos e te amamos com todo o nosso ser, porque nosso ser está no teu ser e nosso espírito está enraizado em teu espírito. Enche-nos, pois, de amor, que o amor nos conserve unidos quando tivermos seguido nossos diferentes caminhos, unidos nesse espírito único que te faz presente no mundo e que te faz testemunho dessa realidade fundamental que é o amor. O amor venceu. O amor é vitorioso. Amém.
O Diário da Ásia, 250