Blog › 27/08/2021

A escrita de si

 

por Alecxander Cavalcante da Silva

 

Tenho em mim uma ânsia de amar. Não que eu nunca tenha sido amado, pois sempre tive amor tal como sombra a me proteger do sol quente do meio dia. Tenho em mim uma sede e uma fome de amar, como terra sedenta e sem água. Meu coração está e sempre será como o sertão: seco, árido, quebrado. Nunca amei. Não sei amar. Acostumei a mendigar afetos, roubar sentimentos, ser um estelionatário do falso amor. Eu descobri o que é ser amado, mas essa amargura do meu peito sempre me fez ser tão amargo como uma raiz que cura. Amarga amargura é não saber amar. Amarga amargura é não saber retribuir um afeto.

Em mim tudo é dissimulado. Sou mentiroso, e tão mentiroso que acreditei em minhas próprias mentiras e andei nas vocações ilusórias pelo qual meu coração seco cismou.

Sou invejoso, duro, triste. Em mim a falsidade, os dentes amarelos e a desonestidade reinam. Um reino sujo, sombrio e devasso. Uma monarquia aleijada, um absolutismo tão só.

Em mim há tantos espinhos, pedras, sufocos. Sou um admirador de lembranças que choro escondido e abafado. Quisera ser escritor não só de poemas. Quisera ser escritor da minha vida, e apagar todas as maldades e adversidades que pelo meu cruel e sádico capricho eu fiz os outros passar.

Acostumei com pouco afeto, e muita exigência. Acostumei com muita mentira e pouca verdade. Acostumei com pouco amar e muito ser amado. Acostumei com muito admirar e pouco ser admirado.

Eu queria apagar tudo e começar de novo mas não posso. O que foi escrito está escrito e não se apaga mais. Mas minha história não chegou ao fim ainda.

Embora eu não saiba quando será o fim da linha, quero desde agora mudar o foco dessa narrativa torpe.

No lugar da mentira, plantarei verdade. No lugar do orgulho, humildade. No lugar da aparência, a essência. No lugar da inveja, a felicidade. No lugar da preguiça, a diligência. No lugar dos pesadelos, sonhos. No lugar da arrogância, um sorriso de criança, dessas que um dia eu já fui, desses que um dia eu já dei.

Eu quero aprender a amar e aceitar ser amado. Abraçar sem remorsos. Quero que caiam lágrimas de arrependimento para que quando chegar o momento, algum coração aceite esse coração de remendos para se aconchegar.

Alecxander Cavalcante da Silva, 25 anos de idade, é natural de Pires do Rio/Goiás. Graduado em Letras, desde criança se interessa pela leitura - escrita - arte, por entender que tais expressões nos aproxima mais de Deus.

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